26.1.05

Sobre o Cazuza

Amigos do aerolitos

Eu ia dar minha opinião sobre a discussão causada pelo post do dia 17/01 sobre o Cazuza nos comentários do blog, porém o que eu escreví ficou um pouco grande, logo vou postar por aqui mesmo. Isso é até bom, já que dá pra ampliar um pouco mais o debate. Abraços!


Na minha opinião, o problema não está no cazuza e nem na vida que ele levava (isso era problema dele), mas sim no que ele representa. como é sabido, a cultura é transmitida por meio de símbolos, ou seja, sinais que tem um significado além deles mesmos. quando vemos o logo da coca-cola por exemplo, vêm a nossa memória, por uma série de motivos, as idéias de sede, refrescância, e todos os outros motivos que nos fazem beber uma coca-cola.

O Cazuza também é um símbolo... o que assusta são as coisas contidas nesse símbolo e a idéia de consumo ligada a ele. o filme tenta vender a imagem de um contestador de costumes, de um homem que tinha seu valor ligado não a arte que fazia, mas sim às suas idéias, tratadas por revolucionárias, que poderiam transformar o mundo em que vivemos.

E certamente elas são isso tudo... agora, o problema é a idéia da transformação pela transformação, a idéia de que afirmar seus ideais é sempre positivo, sendo eles quais forem. a juventude agora adota um guevara, por exemplo, dizendo que ele lutou. mas normalmente não pergunta pelo que ele lutou. se perguntasse, certamente não usaria camisetas com sua foto!

Com o cazuza acontece a mesma coisa... como integrante do mundo pop, ele era um símbolo (até o papa é pop, como disse uma certa banda há um certo tempo atrás, numa das ironias musicais menos compreendidas da história da música brasileira) e como símbolo, a imagem dele transcende, vende outros comportamentos, outras necessidades que estão, necessáriamente, subentendidas. O que deve ser questionado, e essa foi a intenção do aerolitos ao publicar o e-mail sobre o cazuza, foi causar esse questionamento do cazuza como símbolo e, principalmente, do que tem por trás desse símbolo...

Mudar por mudar, usar o inconformismo das pessoas com suas próprias vidas para erguer "estranhas catedrais" é o que assusta. no fim das contas, trata-se da criação de um moto-contínuo social (!?), de grande exército de "rebeldes sem causa" prontos pra mudar o mundo, mesmo sem saber o que precisa ser mudado; prontos pra lutar, tanto faz o motivo da luta. um grande exército de marionetes.

tráfico de drogas? promiscuidade? um cara que só subiu por ter um pai influente? isso é revolucionário? isso é contestador? por essas e outras que nosso blog diz para quem quiser ler: quando a revolução é mainstream, toda mudança é reacionária!

abraços para todos!

Alexandre

Texto retirado do site www.midiasemmascara.org

O jornalista Jerônimo Teixeira assina o artigo "Gay, nem que seja à força", na Veja desta semana. Diz ele que "historiadores sugerem a homossexualidade de personagens históricos, muitas vezes sem indícios consistentes". Um quadro, à página 79, pretende resumir as informações científicas para se dizer "quais personagens históricos foram ou não gays". Sob a categoria dos "Sem Dúvida", com alegadas "evidência históricas que comprovam" sua homossexualidade, aparece Alexandre, o Grande. Do lado esquerdo, o texto:

"O filme Alexandre, de Oliver Stone, causou certa polêmica por mostrar as relações homossexuais do guerreiro macedônio. Em sua época, porém, esse era um comportamento tolerado e aceitável. Na Grécia daquele período, o relacionamento entre um homem mais velho e um jovem podia ter até um caráter pedagógico..."

O jornalista somente ecoa o que Oliver Stone teria dito à Playboy americana:

"'Alexandre viveu em uma época mais honesta', diz o controverso cineasta... para a próxima edição da revista Playboy. “Nós tratamos da sua bissexualidade. Isso pode ser ofensivo para algumas pessoas, mas a sexualidade à época era diferente. Moralidade pré-cristã. Garotos ficavam com garotos quando queriam'".

Tanto a Veja como o diretor aplicam ao caso particular de Alexandre o que era um comportamento realmente generalizado à época. Apresentam alguma base "científica" para fazê-lo? Nenhuma.

Em outra matéria, a revista, exigindo o que não oferece, reprova a enciclopédia eletrônica Wikipedia no quesito rigor, contrastando-a à Encyclopaedia Britannica, de inegável credibilidade. A mesma Britannica que publica a coleção dos Great Books, cujo volume 14 da edição de 1971 traz Plutarch's Lives (ou "Vidas Paralelas", de Plutarco), o clássico com a biografia de grandes líderes, entre as quais a do próprio Alexandre. Traduzo um trecho da biografia do líder macedônio:

"Quando Filoxeno, seu tenente na região costeira, escreveu-lhe para saber se ele compraria dois jovens rapazes de grande beleza, que Teodoro, um tarentino, tinha para vender, ele se sentiu tão ofendido que passou a questionar freqüentemente de seus amigos que infâmia Filomeno teria observado nele para se atrever a fazer uma oferta tão injuriosa. E imediatamente escreveu-lhe uma carta muito veemente dizendo que Teodoro e sua mercadoria fossem, juntamente com toda a sua freguesia, à ruína. Tampouco foi menos severo com Agnon, que mandou avisar que lhe compraria um jovem coríntio de nome Cróbilo, de presente".

Temos então duas versões da vida sexual de Alexandre para escolher. Qual seria a mais confiável: a dos profissionais da mídia e do entretenimento ou a do clássico de Plutarco?

História ou cultura pop? Que dúvida cruel!

17.1.05

Cazuza




Recebi esse depoimento por e-mail...

"Fui ver o filme "Cazuza" há alguns dias, e me deparei com uma coisa estarrecedora.
As pessoas estão cultivando ídolos errados.
Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza?
Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é ,no mínimo, inadmissível.
Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado.
No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos.
A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras.
O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta.
São esses pais que devemos ter como exemplo?
Cazuza só começou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora.
Temos vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou que tenha algum conhecido importante.
Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro ao admitir que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso.
Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não.
Fiquei horrorizado com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por ver muitos adolescentes assistindo o filme. Será preciso muita conversa para que eles não comecem a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas são certas, já que foi isso que o filme mostrou.
Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada?
Será que ser correto não dá ibope, não rende bilheteria?
Como no comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor.
Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi conseqüência da educação errônea a que foi submetido.
Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissessem NÃO quando necessário?
Lembre-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor.
Não deixe seus filhos a revelia para que não precisem se arrepender mais tarde.
A principal função dos pais é educar.
Não se preocupe em ser amigo de seus filhos.
Eduque-o e mais tarde ele verá que você foi a pessoa que mais o amou e foi, é e sempre será o seu melhor amigo, porque amigo não diz SIM sempre..."

16.1.05

Empesteado...



Neste exato momento, estou no meu quarto com a porta fechada... lá fora, um cheiro horrível de camarão invade minha casa. Como alguém consegue comer algo que cheira tão mal e tem a aparência de uma barata???

13.1.05

Homenagem






Depois de dias fora da minha querida cidade, resolvi postar aqui uma homenagem a ela.

HINO DE SÃO PAULO


Paulista, pára um só instante
Dos teus quatro séculos ante
A tua terra sem fronteiras,
O teu São Paulo das bandeiras.
Deixa atrás o presente:
Olha o passado a frente!
Vem com Martim Afonso a São Vicente!
Galga a Serra do mar! Além lá no alto,
Bartira sonha sossegadamente
Na sua rede virgem do planalto,
Espreita-a entre a folhagem de esmeralda;
Beija-lhe a cruz de estrelas da grinalda;
Agora, escuta! Aí vem moendo o cascalho,
Bota-de-nove-léguas, João Ramalho.
Serra acima, dos baixos da restinga,
Vem subindo a roupeta
De Nóbrega e de Anchieta,
Contempla os campos de Piratininga!
Este é o colégio. Adiante está o sertão.
Vai! Segue a entrada! Enfrenta! Avança! Investe!
Norte-Sul-Este-Oeste,
Em "Bandeiras" ou "Monção"
Doma os índios bravios;
Rompe a selva, abre minas, vara rios;
No leito da jazida
acorda a pedraria adormecida;
Retorce os braços rijos.
E tira o ouro dos seus esconderijos.
Bateia, escorre a ganga,
Lavra, planta, povoa!
Depois volta a garoa.
E adivinha através dessa, cortina,
Na tardinha enfeitada de miçanga,
A sagrada colina, ao grito do Ipiranga
Entreabre agora os véus!
Do cafezal, senhor dos horizontes,
Verás fluir, por planos, vales, montes,
Usinas, gares, silos, cais, arranha-céus!

6.1.05

A garota que não sabia dançar

Mais um poema de minha autoria. Foi escrito no fim de 2003 e, pela primeira vez, é publicado. Espero que vocês gostem!

A garota que não sabia dançar (Rafael Pereira)

Suspensão, suspeição
várias formas de qualificação?
ela não dança, ele não conduz
nada condiz com o roteiro

não havia nada escrito
e ninguém queria ler
não foi nada planejado
também não foi sem querer

salões de festa, saidas de emergência
vários nomes para a mesma situação
ele não dança, ela não se importa
não há mais nada inteiro mesmo

não havia mais nada ali
e nem motivos pra dançar
não há música no rádio
ou orquestra a tocar

SEM VESTIDO E SEM NUDEZ
SEM CERTEZA E SEM TALVEZ
SEM CENSURA E SEM PUDOR
E SEM NADA PRA FALAR

a garota que não sabia dançar
quarenta e sete do segundo tempo
um foguete antes do lançamento
o nono mês de gestação

SEM CENSURA E SEM PUDOR
...E SEM NADA PRA FALAR...