DESTRA x SINISTRA OU A DOUTRINAÇÃO GRAMSCIANA DE NORBERTO BOBBIO
09/03/2001
Imagine você uma sala de jovens recém ingressados no curso superior, qualquer deles, e que um desses professores-doutrinadores tenha feito a eles a encomenda da leitura do livro do Bobbio ESQUERDA E DIREITA: RAZÕES E SIGNIFICADOS DE UMA DISTINÇÃO POLÍTICA (Ed. UNESP, 1995). Pode apostar que a sala inteira terá se convertido instantaneamente ao comunismo (ou socialismo, o que dá na mesma). Isso porque ele mente (uso conscientemente essa palavra) ao afirmar que a distinção entre esquerda e direita dá-se em alguém ser a favor ou contra “mais igualdade”. Quem, em são juízo, seria a favor da desigualdade? Aí você terá mais uma leva de neo-eleitores do PT e admiradores do MST.
Digo que mente porque um homem de sua erudição não pode ignorar o absurdo dessa afirmação. Então tenho que admitir que ele a fez por motivos pragmáticos, de propaganda política. Tanto é assim que no capítulo do final do livro (ESTRELA POLAR, mais retórica propagandista) ele dá o testemunho de como se tornou de esquerda. Afirma ele (pag.125): “A razão fundamental pela qual em algumas épocas da minha vida tive algum interesse pela política ou, com outras palavras, senti, senão o dever, palavra ambiciosa demais, ao menos a exigência de me ocupar da política e algumas vezes, embora bem raramente, de desenvolver atividade política, sempre foi o desconforto diante do espetáculo das enormes desigualdades, tão desproporcionais quanto injustificadas, entre ricos e pobres, entre quem está em cima e quem está em baixo na escala social, entre quem tem poder, vale dizer, capacidade de determinar o comportamento dos outros, seja na esfera econômica, seja na esfera política e ideológica, e quem não o tem. Desigualdades particularmente visíveis e – fortalecendo-se pouco a pouco a consciência moral com o passar dos anos e o trágico evolver dos acontecimentos – conscientemente vividas por quem, como eu, nascera e fora educado numa família burguesa, na qual as diferenças de classe eram ainda mais marcantes”. Bingo.
Pura retórica propagandista. Por que mentira? Porque esquece de dizer que as desigualdades não são geradas na peculiaridade das economias capitalistas, que as desigualdades não foram abolidas – e sim acentuadas – nas experiências socialistas e que as economias de mercado são o único “locus” onde, não obstante as desigualdades, verifica-se a redução da pobreza, a igualdade objetiva de oportunidades e o enriquecimento relativo geral em comparação com qualquer outra experiência histórica.
Mente de forma mais suja porque abre o capítulo usando a frase retórica de Cesare Beccaria (Do Delito e das Penas): que a propriedade é “o terrível direito”. E afirma, sem maior cerimônia, que a propriedade privada é obstáculo à igualdade entre os homens.
Um jovem desinformado (como é a regra) e sonhador já terá caído da armadilha e levará muitos anos para se livrar do veneno inoculado na sua alma, se conseguir.
E arremata mais à frente: “A luta pela abolição da propriedade individual, pela coletivização, ainda que não integral, dos meios de produção, sempre foi, para a esquerda, uma luta pela igualdade, pela remoção do principal obstáculo para a realização de uma sociedade de igual”. A obra de conversão terá sido concluída.
A coletivização é que impõe um forma aristocrática de condução da sociedade, pois a junção do poder político com o poder econômico (tão brilhantemente apresentado pelo Prof. Olavo de Carvalho) é que gera as condições objetivas para a mais hedionda forma de tirania, as tais “democracias populares” que ainda hoje vigem em Cuba e na China.
Eu me pergunto como neutralizar essa forma de veneno da alma. Não sei. Acho que aqueles que, de alguma forma, escaparam do torpor nefando da propaganda comunista, têm a obrigação de formar os jovens, dentro da sua esfera de ação pessoal.
De minha parte, começo chamando quem mente de mentiroso.
texto retirado de www.nivaldocordeiro.org