Pessoas... pra quem se interessar, estou postando alguns trechos da conclusão do meu TCC. Não vou deixar um post imenso aqui no blog. Se alguém se interessar pelo tema, por favor entre em contato q eu mando o texto completo!
[]'s Rafael
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Além dos fatores mencionados, o que se pode apontar como motivo para esta crise é a existência de uma oposição implícita entre dois dos ideais que norteiam o estabelecimento da ordem estatal, que se reflete diretamente na situação exposta no último capítulo desta pesquisa: a aparente contradição existente entre justiça e liberdade.
Essa possível contradição foi apontada por Camus (2000, loc cit), e consiste no fato de que o estabelecimento total da liberdade esmaga qualquer possibilidade de justiça, já que a liberdade total inclui uma potencial liberdade de assassinato, enquanto o estabelecimento total da justiça elimina a liberdade de ação do indivíduo, já que a justiça total só pode surgir em um quadro onde todas as atividades humanas forem totalmente previsíveis. Desta forma, a aplicação do mecanismo de violência estatal sempre acabará tendendo para um dos lados desta dicotomia, ajudando a estabelecer o império do medo, não importa qual dos caminhos existentes seja escolhido.
Porém, justiça e liberdade podem conviver de forma harmoniosa, desde que se admita que ambas não são fins, mas meios de preservação e de realização do homem. A partir do momento que o homem perde parte de sua liberdade para viver em sociedade, seu protesto por liberdade total é abandonado. Ao mesmo tempo o homem não aceita abrir mão de toda a sua liberdade, de forma a excluir a possibilidade do estabelecimento de uma justiça total.
Assim, o que resta desta aparente contradição é que, justamente, a oposição permanente de justiça e liberdade é o que pode garantir as condições de desenvolvimento pessoal do indivíduo. A justiça limita a liberdade e garante a vida, a propriedade, a família enquanto a liberdade limita o domínio do homem pelo homem e estabelece as formas do verdadeiro exercício do poder. O equilíbrio entre justiça e liberdade dentro do Estado é algo a ser determinado em uma linha deveras tênue, já que qualquer desvio na atuação estatal, especialmente na aplicação dos mecanismos de violência institucionais, implica no enfraquecimento do poder e na aproximação da tirania.
Porque poder não é a mera sujeição do mais fraco pelo mais forte . O poder só é exercido dentro da esfera política e pressupõe a existência de um espaço onde os homens se reconheçam mutuamente e, desta forma, estabeleçam, livremente e através das distinções que cada um possui, o espaço legítimo para seu exercício, bem como os limites de atuação do poder instituído na forma de Estado. A dominação de um homem por outro com base na força destrói a possibilidade da existência deste lugar e, consequentemente, a existência do poder. Não há poder sem legitimidade
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Voltando às mais caras tradições da filosofia ocidental , pode-se definir o homem por um animal político e dotado de fala. Ou seja, como um ser que, pela necessidade de se expressar, é movido ao contato com outros seres semelhantes. Tirar do homem, através da ameaça a sua vida e integridade física, o seu direito à liberdade, eqüivale a tirar do homem sua própria condição de ser humano, sua dignidade inata que o eleva perante os outros seres que vivem neste mundo.
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Só podemos afirmar que a VIDA e a LIBERDADE devem ser preservadas. Não por serem sagradas em relação a Deus, não por serem pressupostos da ordem racional, mas simplesmente porque seu desaparecimento significará o desaparecimento da humanidade, uma vez que qualquer construção cultural pressupõe a presença de indivíduos - homens vivos e pensantes. Defender esta condição para nós e para todos os indivíduos que já vivem ou que venham a tomar lugar neste mundo é o grande desafio que se mostra à humanidade neste início de milênio.